
São 23:50 da manhã. Sou a atual gestora da Kora Kora. Sou uma mulher de 32 anos com uma incoerência latente, uma batalha interna alucinante entre um corpo que se vê com 23 anos, ativo, ágil, esguio, leve, cheio de energia e disposição e que ainda não acredita que chegou aos 30, e uma mente antiga, cheia de caraminholas criadas por uma maturidade antecipada.
Um dia conto em outro blog post o que já vivi aos 32 anos - entre mais de 4 mudanças, 3 reformas de apartamento, namorados 3 anos mais novos ou 22 anos mais velhos, mudanças de carreira, empreendedorismo, além de todos os hobbies que gosto de me aventurar a iniciar sem nunca me especializar.
Mas o tópico aqui é o momento presente. Mãe de um bebê fantástico de quase 7 meses, moro num lugar no Rio de Janeiro cuja insegurança é disfarçada pelo raios de sol e paisagens incríveis associadas à uma limitação de raio de circulação.
E hoje, às 23:50 da manhã tenho tantas preocupações na minha cabeça que não sou capaz de dormir. Não sou capaz de deixar minha mente relaxar porque sou comprometida demais com as entregas que me proponho a fazer e perco o sono pensando a respeito da minha reputação quando as coisas saem dos trilhos. Acho que nunca estive numa fase tão pessimista. Se meus amigos lerem esse texto vão achar que foi feito por inteligência artificial, porque sou sempre muito alto astral e positiva.
Mas recentemente as coisas passaram a dar errado. Elas não saíram EXATAMENTE como eu esperava. Como o meu cérebro projetou, como todos os meus cronogramas estimaram, como as minhas planilhas simularam. O mundo real resolveu desafiar meus projetos detalhados e disse que não está afim de seguir o meu roteiro.
E assim eu não tenho dormido bem há alguns dias. Hoje eu só aceito; não tenho visto muita produtividade em lutar contra esse sentimento. Meu marido me diz diariamente que estou fazendo o meu melhor e que sou boa no que faço e que não deveria me martirizar tanto. E começamos a refletir sobre os efeitos reais a respeito de reputação.
Esse texto é sobre reputação. Reputação é uma percepção social. Acredito que reputação seja um conjunto de percepções de um grupo que precisa ser minimamente coeso ou próximo para compartilhar de uma mesma visão sobre algo ou alguém. Se o grupo é pulverizado demais, ou se as percepções coletadas foram tomadas em tempos muito diferentes, a reputação já não é marcada na pedra.
Seus amigos e familiares protegem a sua reputação sobre diferentes assuntos e são mais tolerantes porque te conhecem de perto - ou pelo menos é assim que se imagina. Seus colegas de trabalho já podem não ser tão comprometidos em defender seus feitos e valores porque podem ter tido experiências diferentes em se tratando de resultados do seu serviço. E tem os fornecedores, clientes, patrões, empregados e toda a sorte de gente que tem um contato com você que não trisca em nada na intimidade.
E todas as percepções são únicas. Elas são tomadas com base em interações limitadas, circunstanciais, em momentos de humor específicos, em situações de tensão ou de tranquilidade, em momentos de folga financeira ou de austeridade, em contextos políticos favoráveis ou não.
Esse é o primeiro post desse blog. Não queremos que saia tão longo.
A conclusão precipitada - porque poderia passar mais algumas muitas linhas falando sobre esse assunto - é que nos sentimos pressionados diariamente a performar melhor, ser mais, parecer mais, ter reconhecimento e ser visto da melhor forma por gente que também passa pelo mesmo que nós passamos.
Não sou nem um pouco a favor do "nivelar por baixo" nem gosto de reconhecer mediocridade. No entanto, a humanidade é uma teia. Não somos e não fazemos nada sozinhos. Assim, como prega o estoicismo - mais uma pauta muito boa para textos futuros - precisamos nos preocupar em manter a nossa paz interior através do controle das nossas emoções e da aceitação do que está fora do nosso alcance.
Não sacrifiquemos as coisas boas pelo que sai do nosso controle. Estamos todos equilibrando pratinhos e, se com boas intenções na cabeça e no coração, faremos o nosso melhor.
Que fiquem os anéis, e que fiquem também os dedos.